segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Nutrição do paciente oncológico


A nutrição desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento do paciente oncológico, seja ele Humano ou Veterinário.
É sabido que determinado tipo de alimentação, está associado a um risco aumentado de desenvolver neoplasias malignas. Por exemplo, as pessoas que ingerem carnes vermelhas têm risco aumentado de desenvolver cancro do cólon. Nos animais, talvez o hipertireoidismo felino esteja associado ao consumo de alimento enlatado. Mas nem tudo são más notícias. Os alimentos são uma grande ajuda na terapêutica oncológica. Foi do conhecimento geral a notícia do prémio de investigação atribuído a uma nutricionista portuguesa sobre a associação entre uma correcta alimentação e a recuperação dos pacientes a receber tratamento para cancro. Na veterinária, os estudos não são tão vastos como no campo humano. Contudo, já existem dados que suscitam interesse na classe veterinária e com resultados interessantes.
Para o animal se alimentar correctamente é preciso primeiro garantir que este tem vontade de comer. Esta vontade de comer, não passa necessariamente por ter fome. Trata-se sim de o animal se alimentar voluntariamente para se sentir saciado, bem nutrido e hidratado!
A náusea e o vómito são sintomas frequentemente presentes no paciente oncológico, seja na fase pré-tratamento, como no caso de uma neoplasia gastrointestinal, seja depois associado aos fármacos citotóxicos que se utilizam para tratar o cancro.
O médico veterinário tem que apostar numa política de prevenção da emese, para que o animal com fome, consiga comer! É preferível o uso de uma anti-emese apropriada do que usar estimulantes do apetite em animais emetizados ! Outro sintoma importante a descartar é a presença de aversão alimentar que se desenvolve no doente após experiência traumática com a comida (ex. alimentos líquidos forçados ou que lembram período de stress).
A avaliação nutricional do paciente, desde a primeira consulta até ao final dos tratamentos, deve fazer parte, tal como a avaliação do hemograma, do esquema e planos terapêuticos. A caquexia é um factor de prognóstico negativo em oncologia.
A célula tumoral utiliza como fonte de energia preferencial, os carbohidratos solúveis, como a glicose. As citocinas TNFα, IL-6 e IL-1 estão associadas à promoção de alterações do metabolismo basal, caracterizado pela promoção de catabolismo proteico, lipólise e promoção metabolismo anaeróbio. Por sua vez, há formação de mediadores inflamatórios potentes e radicais livres endógenos ou derivados da toxicidade farmacológica que contribuem para o desenvolvimento da caquexia tumoral.
Não existe um alimento ou dieta específicos per se, para o cão ou gato com cancro. Existem alimentos comerciais que demonstraram vantagens clínicas quando utilizados em doentes com tumores particulares, como no caso do linfoma em cães. Contudo, face ao conhecimento que temos uma alimentação considerada adequada deve ser rica em proteína de boa qualidade, carbohidratos de absorção lenta, ácidos gordos ómega 3 e fibra. Pode, ainda, considerar-se de utilidade suplementar a alimentação com arginina, glutamina e anti-oxidantes, estes últimos ainda controversos. Existem no mercado alimentos comerciais muito completos, que incluem na sua formulação estes micronutrientes de forma adequada. A presença de doenças concomitantes ou alterações fisiológicas/metabólicas devidas ao próprio tumor ou terapêutica devem, também, ser consideradas no plano terapêutico alimentar. Por exemplo, o Psyllium, fonte de fibra e absorvente de água, presente em alguns alimentos, pode ajudar a moldar as fezes num paciente com dejecções diarreicas.
Em suma, não se pode dizer que existe uma dieta para os pacientes com cancro, mas sim que cada paciente com cancro deve ter uma abordagem nutricional que contemple tanto as considerações metabólicas gerais, como as particularidades de cada doente.